Por que culpam tanto os Videogames?

Publicado: 4 de agosto de 2011 em Cultura Nerd, Jogos
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Já faz uns trinta anos que videogames existem acessíveis as massas, muita coisa mudou desde o Pac Man, hoje o mercado dos jogos gera mais dinheiro que o do cinema. Call of Duty Black Ops foi o artigo de mídia que gerou mais lucro nas suas primeiras 24 horas da história, arrecadando um total de 360 milhões de dólares (fonte Estadão online), e do jeito que as coisas estão indo o Modern Warfare 3 deve bater esse recorde. Financeiramente os jogos ocupam um lugar ao lado dos filmes e músicas, mas na cabeça de muitos isso é algo longe de acontecer.

Quem nunca ouviu a expressão “videogame é coisa de criança”? Acredito que todo mundo pelo menos uma vez já ouviu alguém falando algo do gênero. Esse tipo de afirmação só pode ser feita por pessoas que estão completamente alheias ao que são os jogos eletrônicos em nossa contemporaneidade. Mesmo na época do Mario e do Sonic já haviam jogos feitos para um público mais adulto onde temas violentos eram comuns. O tempo passou e os gráficos foram ficando cada vez mais realistas ao ponto de termos jogos como Heavy Rain e L.A. Noire. Qualquer pessoa que conheça esses dois títulos sabe que eles não foram feito para crianças, por esse exato motivo, como os filmes os jogos possuem uma classificação que apontam a faixa etária mais adequada. Nessa classificação há todas as informações sobre que tipo de conteúdos que estão presentes nos jogos, como violência, linguagem pesada, nudez, etc. Todas as informações para os pais julgarem se aquele jogo é adequado aos seus filhos.

Mesmo com essas ferramentas há pessoas que acusam os jogos, principalmente os violentos de instigarem a violência, algo completamente sem sentido e sem comprovação. Um exemplo do que pode acontecer, e com certeza já aconteceu em algum lugar do mundo, um homem com seus vinte poucos anos assassina uma pessoa, a policia encontra na casa dele uma cópia do jogo Doon (é sempre Doon ou Counter Strike), então é obvio que o motivo dele ter matado foi o jogo. A Polícia obviamente não pensa assim, mas quantos jornalistas já não fizeram isso? Quantas pessoas jogam e não matam ninguém? E quantas matam e nunca jogaram algo na vida? Essa associação entre jogos e violência é tão valida quanto assassinatos e pães de trigo. “O meliante alegou que não tomou seu café da manhã direito, esse foi o motivo para os crimes…” (Um dia de fúria, alguém?). Simplesmente não há lógica nisso.

Jogos de tiro ajudam a tomar decisões rapidamente

Jogos violentos fazem bem

Esse ano o governo da Califórnia tentou por uma lei que restringia a venda de jogos violentos para menores de dezoito anos, assim como as bebidas, sob pena de multa e até prisão. Não sei dizer ao certo o que ocorreu, mas a decisão da validade da lei foi parar na justiça, que a julgou inconstitucional. O que foi dito é que não há nenhum tipo de comprovação que os jogos possam fazer qualquer mal. A justiça americana colocou os jogos no mesmo patamar dos filmes e dos livros, uma grande vitória. Se esse tipo de lei fosse aprovada talvez com medo der perder dinheiro os jogos como nós conhecemos hoje (violentos, explícitos e sem censuras) não existiriam mais.

Supreme Court Strikes Down California’sVideo-GameLaw

Para nós brasileiros o cenário é um pouco diferente. Os jogos aqui são vistos em sua maioria como algo marginal, besta, para crianças; resumindo, uma total perda de tempo. A culpa disso talvez se deva aos impostos, ao preconceito e as campanhas realizadas por apresentadores de televisão, que volta e meia viram suas atenções a temas que eles não possuem o menor conhecimento, assim empurrando suas opiniões preconceituosas para as pessoas que não tem condições de julgarem por si mesmas o que é certo ou errado.

Por que os impostos são culpados? Bem, o mercado brasileiro de jogos é quase todo ilegal, a grande maioria das pessoas (principalmente quem não dispensa o PS2 e o Xbox) compram jogos ou os baixam ilegalmente. E eu não culpo essas pessoas, afinal a diferença de preços da loja para o pirata é absurda. A situação é tão cômica que importar jogos, mesmo caindo na receita com um imposto de 60% do que você já paga lá fora ainda sai mais barato do que ir ao shopping e comprar o jogo com os impostos nacionais. Ou seja:

Gran Turismo 5 – PS3

Shopto – £29.86 que dá em reais R$ 76,60 + 5,50£ (14,11) de frete

Total de R$ 90,71 + 60% de impostos R$ 54,42 = 145,13

Mesmo jogo sendo vendido no Brasil (lojas online)

Datishop – R$ 179,90 + frete

Saraiva, Americanas, Submarino e Walmart

R$ 199,00 + frete

Assim é fácil ver o motivo que qualquer pessoa tem de recorrer ao mercado ilegal, um jogo de Xbox 360 pirata custa por volta de 20 reais. Isso faz com que os jogos sejam algo mal visto, pois fisicamente nunca são de boa qualidade, são feios e não possuem nenhum tipo de controle.

O preconceito ao qual os videogames estão relacionados também é outro grande culpado dessa imagem negativa dos jogos eletrônicos, tanto a associação com a violência quanto a crença que são feitos para crianças. Começamos pela violência.

Quem não se lembra da tragédia que foi o massacre das crianças naquela escola carioca (Escola Estadual Tasso da Silveira)? O assassino Wellington Menezes era, segundo o site R7, “Viciado em jogos de tiro, fissurado em ataques terroristas e vítima de bullying”, e continuando, “(…)Wellington vivia pelos cantos, era alvo de deboche dos meninos e excluído pelas meninas. De acordo com Márcio, ele era o único a se aproximar de Wellington, que o convidava a visitar sua casa e mostrar os mais recentes e violentos jogos.”. Esse Wellington com certeza tinha algum problema, e não foram os jogos que causaram isso, muito menos o motivo para o atentado. Jogos de tiros são os mais populares hoje, e não há um adolescente que não conheça Call of Duty (uso CoD como exemplo por ser mais popular, mas poderia usar God of War se quisesse). Felizmente dessa vez a atenção da mídia foi focada para o bullying um problema real que deve ser combatido, mas a vontade de puxar o tapete dos jogos nunca desaparece. Qual o problema dos meios de comunicação com os jogos?

Mais recentemente houve um atentado na Noruega, o autor, um homem aparentemente normal Anders Behring Breivik. Em um manifesto escrito por ele há certos trechos onde o assassino comenta sobre os jogos eletrônicos. Anders chega ao absurdo de afirmar que Modern Warfare 2 é um ótimo simulador de guerra, e que ele usou o jogo em seu treino para os ataques. Qualquer pessoa normal enxerga nisso uma declaração de uma pessoa perturbada, não há como usar um jogo que não simulada nada como preparação militar. (Se ele tivesse comentado do Arma II quem sabe eu não me preocupasse um pouco… Não.) Esse homem usaria qualquer coisa como estopim desse ataque, pois o problema estava nele, se não fosse os jogos, seriam filmes. Ele poderia ter falado do Falcão Negro em Perigo ou qualquer outro título de guerra, o resultado seria o mesmo.

Nós vivemos num país de analfabetos, a educação brasileira não está nem em segundo plano nos olhos de nosso governo (quem acompanhou a greve dos professores estaduais em Santa Catarina sabe muito bem disso). Sendo assim as pessoas que são culturalmente menos favorecidas podem ser facilmente influenciadas por esse tipo de matéria com um enfoque mais sensacionalista.

Há alguns anos no Brasil o Yu-Gi-Oh! virou moda, não lembro exatamente qual apresentador de tevê que começou uma série de “reportagens” mostrando as cartinhas do demônio. Tenho certeza que várias crianças perderam seus decks por causa desta bobagem. A imprensa quase sempre trata os jogos dessa forma sensacionalista, e faz muito pouco tempo que esse tipo de atitude vem mudando, e esta mudando pelo simples fato que a industria dos jogos eletrônicos gerar muito dinheiro. Outro fator que também está levando a um pensamento diferente sobre os jogos  o fato que a maioria das pessoas que possuem acesso a internet são jogadores de alguma coisa nas redes sociais. E apesar da hipocrisia existir (“Jogos são coisas de crianças, mas eu nuca deixo de abrir minha colheita no orkut”), esse tipo de socialização dos jogos digitais está contribuindo para que as pessoas deixem os antigos preconceitos de lado.

Jogar videogame em família pode ser benéfico para pais e filhos

Voltando ao título de meu post (Por que culpam tanto os Videogames?), não consigo entender o que uma pessoa ou a mídia ganha com esse tipo de preconceito, pois fazendo isso tudo que conseguem é atiçar a raiva dos jogadores que fazem parte do circulo difamado. Tudo que eu gostaria é que esse tipo de associação acabasse de vez.

Vai ter um dia num futuro próximo em que os videogames vão se elevar ao patamar de arte, assim como ocorreu com os filmes e mais recentemente com os quadrinhos, mas até lá, e mesmo lá, quem se considera um “gamer” vai se indignar com esse tipo de acontecimento.

Referências

http://blogs.estadao.com.br/link/black-ops-bate-recorde/

http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/fissurado-em-terrorismo-autor-de-massacre-em-escola-era-conhecido-como-al-qaeda-20110407.html

http://www.finalboss.com/fb5/ctu.asp?t=2&cid=71045

http://www.pernambuco.com/ultimas/nota.asp?materia=20110803200955&assunto=231&onde=Mundo

http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/donna/19,648,3367913,Jogar-videogame-em-familia-pode-ser-benefico-para-pais-e-filhos.html

comentários
  1. bryanjose disse:

    Plese remove the photo at the top of this article or credit it to Rad Jose.
    Video Games

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